A importância do verde.

 - Efeitos neuropsicológicos do contato com a natureza:

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O cérebro humano evoluiu em contato com a natureza. Por milhares de anos, fomos caçadores, coletores, agricultores, e só recentemente passamos a viver cercados de concreto, telas e sons artificiais. Esse afastamento do ambiente natural tem efeitos profundos sobre nossa saúde mental e cognitiva, e a ciência está cada vez mais clara sobre isso.


 Estudos em neuropsicologia vêm mostrando que ambientes com presença de vegetação, água, luz natural e sons orgânicos têm efeitos diretos e positivos no funcionamento cerebral, influenciando desde a memória até a regulação emocional. 


O que acontece no cérebro quando estamos em contato com a natureza? 


 Quando nos expomos a ambientes verdes, ocorre uma redução da atividade na amígdala cerebral, estrutura responsável pela detecção de ameaças e pelo acionamento do sistema de estresse. Ao mesmo tempo, regiões como o córtex pré-frontal, ligadas à tomada de decisão, controle da atenção e planejamento, passam a funcionar de forma mais equilibrada.


 A natureza também estimula a liberação de neurotransmissores como serotonina e

dopamina, que atuam na regulação do humor, no prazer e na motivação. Isso pode explicar por que a maioria das pessoas relata sentir-se “em paz” ou “mais leve” após um tempo em um ambiente natural.


 O que dizem os estudos?


 Uma pesquisa realizada pelo King 's College London (2022) mostrou que apenas 20 minutos diários de exposição a espaços verdes urbanos já são suficientes para aumentar significativamente os níveis de bem-estar subjetivo e reduzir sintomas leves de depressão e ansiedade 


 Segundo um estudo publicado no Nature Neuroscience (Lederbogen et al., 2011), pessoas que vivem em cidades com menor acesso a áreas verdes têm maior atividade na amígdala e maior risco de desenvolver transtornos de humor e ansiedade.


 Uma revisão da literatura no The Lancet Planetary Health (2021) apontou que o contato com a natureza está associado à melhora da memória de trabalho, da criatividade, da atenção sustentada e da velocidade de processamento cerebral. 


Crianças, verde e desenvolvimento cerebral:


 Crianças que crescem com acesso regular a ambientes naturais apresentam

desenvolvimento cognitivo mais saudável, segundo o estudo de Dadvand et al. (2015), publicado no PNAS. Elas demonstram melhor desempenho em testes de atenção, linguagem, e apresentam menos sinais de hiperatividade e impulsividade.


 Ambientes escolares com áreas verdes também contribuem para a redução de estresse tóxico, permitindo que o cérebro em formação se desenvolva de forma mais equilibrada. 


Verde como política pública: uma questão de saúde mental.


 A presença de parques, árvores e jardins nas cidades não é apenas uma questão estética, é uma medida preventiva de saúde pública. Ambientes verdes ajudam a reduzir a pressão arterial, os níveis de estresse, e podem até diminuir a taxa de uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos em algumas populações.


 Por isso, urbanistas e psicólogos ambientais têm defendido a criação de mais

“infraestruturas verdes” como corredores ecológicos, telhados vivos e hortas urbanas. O verde, além de embelezar, literalmente protege o cérebro.


 Conexão mente-ambiente: repensando a relação com a natureza

Quanto mais aprendemos sobre os efeitos da natureza no cérebro, mais percebemos que o ser humano não foi feito para viver totalmente desconectado do mundo natural. Não se trata apenas de preservar florestas distantes, mas de entender que trazer o verde para o cotidiano é um ato de cuidado coletivo e neurológico.


 Plantar uma árvore, cuidar de um jardim comunitário ou defender políticas de arborização urbana são formas simples, mas poderosas, de cuidar não só do planeta, mas também da saúde mental das gerações presentes e futuras.


                                         



  Referências:


- Dadvand, P. et al. (2015). Green spaces and cognitive development in primary

schoolchildren. PNAS.

- Bratman, G. N., et al. (2019). Nature and mental health: An ecosystem service perspective. Science Advances.

- Lederbogen, F. et al. (2011). City living and urban upbringing affect neural social stress processing in humans.

- Nature. White, M. P. et al. (2021). Spending at least 120 minutes a week in nature is associated with good health and wellbeing. Scientific Reports.

- The Lancet Planetary Health (2021). Green space exposure and brain health: a systematic review.


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