Poluição e funcionamento cerebral.
- Como a má qualidade do ar impacta a memória e o humor.
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Quando falamos de poluição, a maioria das pessoas pensa logo em pulmões, mas o cérebro também respira. Literalmente. O ar que entra pelos nossos pulmões chega até o cérebro pela corrente sanguínea, carregando não apenas oxigênio, mas também o que há de ruim no ambiente: gases tóxicos, metais pesados e partículas ultrafinas (as temidas PM2.5). E os efeitos disso não são apenas físicos. Estudos mostram que a má qualidade do ar está ligada a alterações cognitivas, emocionais e comportamentais, especialmente em crianças, idosos e pessoas que vivem em áreas urbanas densamente poluídas.
O que a ciência descobriu?
1 - Problemas de memória e atenção:
Um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences
(Calderón-Garcidueñas et al., 2008) mostrou que crianças expostas cronicamente à
poluição atmosférica em cidades como a Cidade do México apresentam alterações no
hipocampo (região responsável pela memória), além de inflamação cerebral e desempenho
escolar reduzido.
2 -Aumento da ansiedade e depressão:
Pesquisas da Universidade de Chicago (Weintraub et al., 2023) revelaram que pessoas
expostas a altos níveis de poluição do ar têm maior probabilidade de desenvolver
transtornos de humor e ansiedade. A explicação está na neuroinflamação: partículas
poluentes podem ultrapassar a barreira hematoencefálica, gerar inflamação cerebral e
interferir na produção de neurotransmissores como a serotonina.
3 - Risco de demência e Alzheimer:
Em 2020, a Lancet Commission on Dementia incluiu a poluição atmosférica como fator de
risco modificável para o Alzheimer. A exposição contínua pode acelerar o envelhecimento
cerebral e a degeneração de áreas associadas à memória e ao controle cognitivo.
4 - Crianças e adolescentes em risco:
Um estudo da Columbia University (Perera et al., 2019) identificou que bebês expostos à
poluição ainda no útero podem apresentar, anos depois, maior tendência à impulsividade,
problemas de comportamento e até déficit de atenção.
Como a poluição impacta o cérebro?
– Reduz o fluxo de oxigênio no cérebro.
– Aumenta a inflamação neural.
– Afeta neurotransmissores como dopamina e serotonina.
– Diminui a plasticidade sináptica, dificultando o aprendizado e a formação de novas
memórias.
– Aumenta o risco de doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer.
E se eu respiro ar poluído todo dia?
É a realidade de muita gente. Mas existem medidas que ajudam a proteger o cérebro e o
corpo mesmo em cidades com baixa qualidade do ar:
– Evitar fazer exercícios em áreas com muito trânsito ou em horários de pico.
– Usar máscaras PFF2 em dias com alta concentração de poluentes.
– Plantar árvores (elas filtram partículas e melhoram a qualidade do ar local).
– Acompanhar a qualidade do ar com apps ou sites como o ClimaTempo e evitar sair
quando estiver ruim.
O que isso tem a ver com sustentabilidade?
Poluição do ar está diretamente ligada ao modelo de produção e consumo urbano, ao uso
excessivo de carros, à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento. Ou seja: os
mesmos fatores que prejudicam o planeta também afetam o nosso cérebro.
Lutar por transporte público de qualidade, reduzir o uso de combustíveis fósseis, apoiar
fontes de energia limpa e ampliar áreas verdes não é só uma pauta ambiental, é uma
questão de saúde mental pública.
Referências:
Calderón-Garcidueñas, L. et al. (2008). Air pollution, cognitive deficits and brain
abnormalities: A pilot study with children. PNAS.
Weintraub, A. et al. (2023). Air pollution exposure and mental health: evidence from US
data. University of Chicago
Perera, F. et al. (2019). Prenatal exposure to air pollution and behavioral problems in
children. Environmental Research.
The Lancet Commission on Dementia (2020).
Power, M. C. et al. (2016). Traffic-related air pollution and cognitive function in a cohort of
older men. Environmental Health Perspectives
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